O ultrassom com preparo intestinal é um exame que vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente quando precisamos investigar com mais precisão a presença de endometriose profunda.
Ele é um recurso valioso no diagnóstico por imagem, mas nem todo mundo sabe ao certo quando ele deve ser feito e se há alguma contraindicação ou restrição importante.
Como radiologista, sei que esse tipo de exame costuma gerar muitas dúvidas. “Será que posso fazer?”, “Tenho alguma condição que impede?”, “É seguro em todas as situações?”
São perguntas legítimas, e eu quero, neste artigo, responder com clareza e acolhimento, explicando quem realmente pode se beneficiar do ultrassom com preparo intestinal e quando precisamos avaliar com mais cuidado.

O que é ultrassom com preparo intestinal?
Antes de falar das indicações e restrições, vale relembrar o que é esse exame. O ultrassom com preparo intestinal é uma versão mais detalhada do ultrassom transvaginal.
A grande diferença está no preparo prévio: a paciente faz uma pequena limpeza intestinal antes do exame, com dieta e, em alguns casos, o uso de laxantes leves.
O objetivo desse preparo é melhorar a visualização das estruturas pélvicas. Isso porque o intestino, quando cheio ou com muitos gases, pode atrapalhar a imagem.
Com o preparo adequado, conseguimos ver com muito mais nitidez órgãos como útero, ovários, bexiga e especialmente o intestino, o que é fundamental na investigação de endometriose e aderências.
Quem pode fazer o ultrassom com preparo intestinal?
De modo geral, o exame é indicado para mulheres adultas com suspeita de endometriose profunda ou outras alterações pélvicas que envolvam intestino, ligamentos, reto, septo retovaginal ou bexiga.
Não é um exame feito de rotina: ele entra quando há necessidade de olhar mais fundo (literalmente).
As principais candidatas ao exame são:
- Mulheres com dor pélvica crônica
- Mulheres com suspeita de endometriose profunda
- Mulheres com alterações intestinais no período menstrual
- Pacientes em preparo para cirurgia ginecológica
- Mulheres com queixas de dor durante a relação sexual
- Mulheres com infertilidade associada a alterações pélvicas
A idade costuma variar, mas a maioria das pacientes que realizam esse exame está entre os 20 e os 45 anos, faixa etária em que a endometriose é mais comum.
Existem restrições para o exame?
Sim, existem algumas situações em que o ultrassom com preparo intestinal pode não ser indicado, ou pelo menos precisa ser avaliado com mais cautela. E isso vale tanto pelo preparo quanto pelo tipo de exame realizado.
Vamos aos pontos principais:
1. Mulheres virgens
Como o exame é feito por via transvaginal, ele não é indicado para mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual. Nesses casos, outras formas de avaliação são consideradas, como ultrassom transabdominal ou ressonância magnética com preparo.
2. Gravidez confirmada
Se a paciente está grávida, o ultrassom com preparo intestinal não é recomendado. O uso de laxantes e a introdução do transdutor transvaginal são evitados nesse período, especialmente no primeiro trimestre.
Em gestantes com sintomas, optamos por exames menos invasivos e que não envolvam preparo intestinal.
3. Pacientes com doenças intestinais agudas
Em casos de crises inflamatórias intestinais (como retocolite ou doença de Crohn em atividade), diverticulite ou outras condições intestinais agudas, o preparo intestinal pode agravar os sintomas.
Nestes casos, o exame é adiado até que haja controle do quadro ou avaliado com muito mais cautela.
4. Intolerância ao preparo
Algumas pacientes têm histórico de reações adversas a laxantes ou intolerância ao preparo intestinal. Quando isso acontece, a gente avalia o risco-benefício e pode adaptar o preparo ou optar por outra abordagem diagnóstica, como a ressonância com preparo.
E quem tem prótese ou cirurgia anterior?
Boa pergunta. Pacientes que fizeram histerectomia (retirada do útero), que têm prótese de silicone ou que passaram por cirurgias abdominais anteriores podem fazer o ultrassom com preparo intestinal, sim. Inclusive, em alguns casos, ele é ainda mais importante para avaliar aderências e alterações pós-operatórias.
A diferença está no olhar técnico de quem realiza o exame. O profissional deve estar preparado para interpretar as imagens considerando o histórico da paciente, e isso é algo que sempre levo em conta no atendimento.
Como é feito o preparo?
O preparo é simples, mas precisa ser seguido com atenção. Costumo passar orientações claras e personalizadas, mas de forma geral, ele inclui:
- Dieta leve no dia anterior ao exame (evitar alimentos que produzem gases)
- Uso de laxante leve, se indicado
- Bexiga vazia no momento do exame
- Jejum leve, quando orientado
Esse preparo pode causar um pouco de desconforto intestinal, mas geralmente é bem tolerado. E o resultado em imagem vale muito a pena.
O exame causa dor?
Essa é uma dúvida frequente, e a resposta é: o ultrassom com preparo intestinal não costuma causar dor, mas pode gerar um leve desconforto, especialmente em pacientes com dor pélvica mais intensa ou em quem está mais sensível.
Sempre reforço que o exame é feito com todo cuidado, respeitando os limites da paciente. Comunicação é essencial nesse momento.
O exame pode ser repetido?
Sim. O ultrassom com preparo intestinal pode ser repetido sempre que necessário, seja para reavaliação de lesões, para planejamento cirúrgico ou para acompanhar a evolução de uma condição diagnosticada anteriormente.
Como é um exame seguro e sem radiação, não há problema em repeti-lo.
Dúvidas frequentes que recebo no consultório
Posso fazer o exame menstruada?
Depende. Se o sangramento for leve, geralmente conseguimos realizar o exame sem problemas. Mas se o fluxo estiver intenso, pode atrapalhar a visualização. Nesses casos, vale remarcar.
É possível fazer o exame sem o preparo?
Se o exame foi solicitado com preparo intestinal, é importante seguir a orientação. Fazer o exame sem preparo pode comprometer a qualidade da imagem e prejudicar o diagnóstico.
Homens podem fazer esse tipo de exame?
Não da forma transvaginal. Mas existe o ultrassom com preparo intestinal via transretal, indicado para avaliação da próstata, reto e outras estruturas da pelve masculina.
Qual exame substitui o ultrassom com preparo intestinal?
A principal alternativa é a ressonância magnética com preparo intestinal, especialmente quando a paciente não pode fazer o ultrassom por alguma das razões que citei. Mas, em muitos casos, o ultrassom é mais acessível, rápido e suficiente.
Para finalizar
O ultrassom com preparo intestinal é um exame de imagem valioso, seguro e que traz informações muito importantes para a saúde da mulher. Saber quem pode fazer (e quem precisa de mais atenção) ajuda a tornar a jornada do cuidado mais clara e mais respeitosa.
Se você recebeu a indicação para esse exame e está com dúvidas, converse com seu médico ou médica. E se quiser conversar comigo, estou por aqui também. O importante é não deixar o cuidado para depois: ele começa com informação e escuta.
Dra. Flavia Mansur Starling
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RQE: 64901 MG l 131321 SP